Temas de Foco 2021

Na 2ª edição do Festival Umundu propomos 4 temas de foco distribuídos por 4 dias. Queremos abordar os inúmeros assuntos relacionados com a transformação sustentável à luz destes temas de foco.

Foi há pouco mais de 300 anos que surgiu na obra “Sylvicultura Oeconomica” do o alemão Hans Carl von Carlowitz dedicada à gestão de recursos florestais o que se pode hoje considerar como a primeira alusão ao conceito de sustentabilidade. Na sua obra, von Carlowitz introduz as ideias básicas da “utilização sustentável” de florestas.

Três séculos mais tarde, em 1972, estes princípios reaparecem no relatório ao Club of Rome “The Limits to Growth” que pode ser considerado o primeiro marco na discussão moderna sobre a ideia da sustentabilidade. No relatório, os autores demonstram que seria possível alterar as tendências de crescimento e estabelecer um estado de estabilidade ecológica e económica que seria “sustentável” no futuro, face a um planeta com recursos finitos, satisfazendo as necessidades de cada pessoa. Esta ideia foi retomada em 1987 no relatório “O Nosso Futuro Comum” das Nações Unidas, onde se propõe a ideia do “Desenvolvimento Sustentável”, que seria “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”.

Desde então, inúmeras cimeiras políticas dedicaram-se à temática e académicos propuseram diferentes modelos de sociedades sustentáveis. No entanto, sem querer tocar na questão do modelo atual de crescimento económico exponencial em que a nossa sociedade se baseia, o conceito foi rapidamente sequestrado por atores com interesses económicos e tornado um chavão, distorcendo assim o seu verdadeiro significado e diluindo o seu impacto. O Festival Umundu Lx tem como lema ser um “Festival para a Transformação Sustentável”: é preciso questionarmo-nos sobre o significado que esta palavra transporta atualmente e quanto da sua essência sobrevive num mundo inundado de publicidade e discursos manipuladores, com a finalidade de fomentar o consumo. Como podemos voltar a resgatar o verdadeiro sentido desta ideia que é fundamental para a sobrevivência da humanidade neste Planeta.

No Dia Mundial do Ambiente, em 5 de junho, foi lançada a Década da Restauração dos Ecossistemas pelas Nações Unidas cujo objetivo é reunir cidadãos, governos e empresas em torno de um objetivo comum: prevenir, deter e reverter a destruição dos espaços naturais que suportam a vida na terra. Queremos dedicar este dia à divulgação desta iniciativa e entender o caminho de regeneração ecológica que o país e o mundo tem pela frente (mais informação na página das Nações Unidas).

Do It Yourself, ou simplesmente DIY, vem do inglês e significa Faça Você Mesmo. A expressão tem história e uma diversidade de significados, dependendo do contexto, seja ele político, artístico ou prático. No entanto, num mundo cada vez mais consumista e materialista, onde o Ter substitui o Ser, o lucro está acima de valores sociais, e o Planeta acaba por ser visto como fonte interminável de recursos naturais, o DIY ganha uma nova dimensão de afirmação política. Arranjar uma tostadeira, plantar alimentos na horta do bairro, produzir a sua eletricidade solar, participar numa  cooperativa de consumo, programar o seu software, entre muitos outros exemplos, é mais que uma moda, um passatempo, ou “coisa de idealistas”. É a expressão de um novo paradigma, de um movimento de pessoas que se recusam a aceitar a realidade destrutiva e desperdiçadora do atual sistema. É uma forma de protesto e de revolta, demonstrando que as alternativas existem e são possíveis. Sendo o próprio Festival Umundu resultado do “Faça Você Mesmo”, queremos dedicar um dia do Festival às pessoas e iniciativas que põem a mão na massa para transformar este mundo num sítio melhor. 

O atual modelo de desenvolvimento das sociedades do Norte global assenta no crescimento económico exponencial e tem vindo a aumentar o fosso entre os mais pobres e os mais ricos, tanto dentro das próprias sociedades como entre países. Em 2020, um grupo de pouco mais de 2000 super-ricos dispunha de tanta riqueza como 60% da população mais pobre quando apenas 1% da população mundial causa o dobro da emissão de CO2 dos 50% mais pobres, sendo assim responsável por uma parte largamente desproporcional do aquecimento global. No entanto, são os mais pobre e os países do Sul global que mais sofrem com as alterações climáticas em curso, tanto pelas secas extremas como pelas inundações derivadas por chuvas torrenciais. Ao mesmo tempo, o extrativismo de matérias primas essenciais para o fabrico dos equipamentos do “mundo moderno” ou a importação e produção de alimentos deteriora de forma catastrófica os ecossistemas do Sul global e destrói os meios de subsistência e o modo de vida dos povos indígenas.

Parece óbvio que a mudança indispensável terá de começar pela redução do consumo dos mais ricos e daqueles que, agora e historicamente, são responsáveis pela exploração do Planeta e pela destruição dos seus ecossistemas. Também em Portugal podemos observar que alguns vivem uma vida desafogada, mas ambientalmente insustentável, quando outros não conseguem sequer aceder às necessidades básicas de uma alimentação saudável e de habitação digna. No entanto, enquanto país, Portugal tem uma pegada ecológica muito superior aquilo que o Planeta suporta: Se todos vivessem como uma pessoa média portuguesa, a humanidade precisaria mais de dois planetas para suportar as suas necessidades de recursos. Assim, coloca-se a questão como podemos, enquanto cidadãos contribuir para a transformação necessária? E como podemos criar formas alternativas de viver, apoiadas na participação democrática e na comunidade, para promover mais justiça social e ambiental, aprofundando valores como o direito ao cuidado, a solidariedade, a autonomia e a liberdade?

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